quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Fundamento Apostólico

Como visto nas edições anteriores, quando se fala em “cobertura espiritual” sobretudo fala-se em fundamento apostólico. “Cobertura espiritual” sem entendimento claro do que é “fundamento apostólico” é como querer construir uma casa sem que se saiba o que é o alicerce. A Bíblia diz que “com a sabedoria edifica-se a casa, e com a inteligência ela se firma” (Pv 24:3). Na Bíblia a casa é figura da vida de uma pessoa ou da igreja. Tomando este verso de Provérbios pode-se dizer que para se edificar a vida de uma pessoa ou para se edificar uma igreja local é necessário sobretudo de sabedoria e não somente boas intenções.

Toda estrutura de uma casa depende de seu fundamento. Quanto mais forte o fundamento maior a possibilidade de se edificar um grande edifício sobre ele. Quem constrói sem fundamento é como se estivesse construindo sem alicerces. Logo quando soprarem os ventos a casa cairá.

Por isso a Bíblia dá tanta ênfase ao fundamento, pois dele depende toda estrutura de uma “casa”. Se uma pessoa ou uma igreja não está bem fundamentada, ela não tem estrutura para suportar as dificuldades que virão, nem terá capacidade de crescer para se tornar uma grande obra.

O que é o Fundamento na Bíblia?

Se quisermos receber ou dar o que se chama hoje de “cobertura espiritual” para edificarmos a vida de pessoas e  igrejas locais temos que ter em mente muito claramente de que se constitui o fundamento. Ao observarmos na Palavra de Deus, vemos que o fundamento é constituído de vários componentes:

Jesus é o fundamento. I Co 3:11 diz: “porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”. Jesus é o fundamento da igreja. A construção de uma casa (vida ou igreja) começa pelo fundamento. Nos tempos bíblicos, a pedra angular era a primeira pedra colocada em um vértice do fundamento de um prédio e esta pedra tornava-se o referencial para construção de toda edificação. Toda construção partia desta pedra. Todas medidas partiam desta pedra. Ela era o início e a base de tudo. A bíblia nos diz que “ele mesmo, Cristo Jesus, é a pedra angular” (Ef 2:20, I Pe 2:7).

Doutrinas Básicas fazem parte do fundamento. Hb 6:1-2 nos diz: “deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno.” Existem certas doutrinas básicas que fazem parte de nosso fundamento. Estes ensinamentos são básicos e não podem ser removidos da base da igreja. Ninguém tem o direito de mexer ou retirar algum deles com o risco de toda casa cair.

Os Apóstolos e Profetas também são o fundamento. A função de Jesus no fundamento da igreja é única. Ele é a pedra angular. A pedra angular é apenas uma parte do fundamento. Se Jesus é a pedra angular do alicerce ele não é todo fundamento. Como vimos, as doutrinas básicas também fazem parte do fundamento da igreja. Jesus tem uma função específica e única no fundamento, mas não exclusiva. Além de Jesus, os ensinamentos que partem dele, da pedra angular, também fazem parte do fundamento. Da mesma forma, os apóstolos e profetas que também partem dele igualmente fazem parte do fundamento da igreja. A Palavra de Deus diz: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2:20). Uma das poucas vezes que Jesus falou a respeito da igreja ele afirmou ao apóstolo Pedro: “eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16:18). Temos aqui dois entendimentos:

Os próprios apóstolos e profetas são o fundamentos. No livro de Apocalipse o apóstolo João nos fala a respeito da nova Jerusalém: “a muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Ap 21:14). Além de Jesus especificamente dizer que sobre Pedro (literalmente pedra, rocha) seria edificada a igreja, também no livro de Apocalipse nos é exemplificado que o fundamento da muralha da nova Jerusalém tinha o nome dos 12 apóstolos do Cordeiro. O significado dos apóstolos e profetas serem o fundamento está em que eles são as estruturas fortes da igreja visível que sustentam no cotidiano a sua força, estatura, expansão e caráter.

Os ensinamentos apostólicos são o fundamento. O apóstolo Paulo escreveu: “segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele.” Paulo estabeleceu ensinamentos como fundamento para que outros edifiquem sobre estas bases. Os ensinamentos apostólicos também faziam parte do fundamento da igreja primitiva.
A Missão, os Princípios e a Visão da Igreja

Nas Escrituras Deus nos deixou revelado, entre tantas outras coisas, qual "a missão" da igreja, ou seja, "o que" sua igreja deveria fazer. A missão representa "a razão da sua existência". A missão confere à igreja a sua verdadeira identidade e propósito. A missão da igreja determina  porquê a igreja existe.

Muitos pastores dizem que a visão de sua Igreja é alcançar os perdidos e discipulá-los e enviá-los. Esta não é a visão de nenhuma Igreja. Esta é a missão de todas as Igrejas. Nenhuma Igreja pode ter uma missão muito diferente desta, pois se assim fosse não seria uma igreja bíblica. Isto é o que as Escrituras dizem ser a missão de todas as Igrejas e não de uma igreja especificamente.

Além das Escrituras terem registrado a missão da igreja, Deus também nos deixou registrado os "princípios" em como cumprirmos com esta missão. Ele não nos deixou registrado especificamente o "como" cumprirmos com a missão, mas sim os "princípios" em como cumprirmos com a missão. Se Ele tivesse estabelecido os "comos" especificamente, talvez estivéssemos nos reunindo em catacumbas e nunca teríamos entrado nos meios de comunicação da atualidade.

Para exemplificar. A comunhão é um princípio, porém como praticamos a comunhão muda de geração em geração. A oração é um princípio, porém como oramos muda de uma cultura para outra.

Os "princípios" não mudam com o tempo ou com as novas tecnologias disponíveis. Porém, "como" especificamente aplicamos estes princípios nas diversas épocas e culturas, muda consideravelmente. Os princípios devem ser contextualizados dentro da cultura e dos recursos disponíveis e aplicados de acordo com a situação. O "como" aplicamos os princípios da Palavra na cultura e tempo que vivemos é o que chamamos atualmente de "visão".

A “visão” de trabalho é baseada nos princípios estabelecidos desde a antiguidade no cânon bíblico e é tarefa dos apóstolos fundacionais da atualidade trazer esta visão para igreja. A visão de trabalho é o fundamento sobre o qual as igrejas apostólicas trabalham.

A Visão Procede de Revelação e Entendimento

Pedro recebeu revelação dos céus que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus. Jesus disse que sobre esta rocha (a revelação e entendimento de Jesus Cristo como Filho de Deus), Ele edificaria sua igreja (Mt 16:18).

A igreja é edificada sobre a rocha da revelação e entendimento. Revelação e entendimento é o fundamento sobre a qual a igreja é estabelecida. Sem revelação apostólica, a igreja não pode ser edificada corretamente.

Diferentes apóstolos são enviados a pregarem diferentes revelações. Existem apóstolos de fé, libertação, prosperidade, etc. Também existem apóstolos que estabelecem uma visão prática de trabalho sobre a qual a igreja é estabelecida. Mesmo que hajam diferentes mensagens reveladas para diferentes apóstolos, estas revelações são fundacionais. A mensagem do apóstolo estabelece um forte fundamento sobre o qual os santos devem alicerçar suas vidas e a igreja deve ser edificada.

A Verdadeira Cobertura Espiritual

Finalizando. Dar cobertura espiritual a alguém ou a uma igreja é estabelecer os fundamentos sobre os quais estas pessoas ou igrejas são edificadas. Estar debaixo de cobertura é andar na visão estabelecida pelo apóstolo. Quem não está edificando sobre a revelação e entendimento apostólico (visão apostólica), está fora de cobertura espiritual.
Conforme havíamos visto nas edições anteriores, Jesus é a pedra angular do fundamento da igreja de onde parte todo edifício (I Co 3:11, Ef 2:20, I Pe 2:7). As doutrinas básicas (Hb 6:1-2) e as pessoas e ensinamentos dos apóstolos e profetas (Ef 2:20), que tem origem na própria pessoa de Jesus que é a pedra angular, também são parte do fundamento da igreja. A pessoa de Jesus e as doutrinas básicas é algo claramente entendido e aceito na igreja, porém o entendimento de que os apóstolos e profetas com seus ensinamentos também fazem parte do fundamento da igreja é algo novo. Com base neste entendimento está toda compreensão bíblica daquilo que chamamos hoje de “cobertura espiritual”. Por isso vamos nos deter mais pormenorizadamente neste ponto.

Apóstolos e Profetas como Fundamento da Igreja

Observemos o que o apóstolo Paulo escreve em sua carta aos Romanos: "esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio" (Rm 15:20). Através deste texto podemos entender algumas coisas que nos ajudarão a compreender a respeito do que significa o fundamento apostólico.

Primeiro, através deste texto entendemos que havia diferentes fundamentos. Paulo fala de um fundamento alheio, ou seja, um fundamento que não pertencia a ele, um fundamento de outro apóstolo e/ou profeta (pois eram os apóstolos e/ou profetas que estabeleciam fundamentos na igreja conforme Ef 2:20).  Entendemos então que na igreja primitiva havia o fundamento de Paulo e o fundamento de outros apóstolos e profetas, ou seja, havia muitos fundamentos apostólico-proféticos.

Segundo, este fundamento, diferente do de Paulo, também era cristão, uma vez que provinha da pregação do evangelho.

Terceiro, Paulo não escreveu que este fundamento alheio ao dele tinha algo de errado. Pelo contrário. Ele dava liberdade para continuar a se expandir livremente onde havia sido estabelecido, sem fazer nenhuma advertência ou objeção. Além disto, ele se sentia confortável que o evangelho estivesse sendo pregado daquela forma naquele lugar ao ponto de não permanecer naquele território, partindo para outros lugares onde o evangelho ainda não havia sido pregado. Se houvesse alguma coisa errada, ele certamente faria alguma advertência, tentaria colocar as coisas em ordem ou permaneceria naquele lugar para pregar seu fundamento (se considerasse que o fundamento que ele pregava fosse o único correto e aceitável).

Através deste texto entendemos que havia alguma diferença ente um apóstolo e outro no que tange ao que pregavam. Não eram diferenças que comprometiam o puro evangelho, a fé ou as doutrinas bíblicas, porém eram diferenças individuais que diferenciavam um apóstolo de outro. Diante disto, surge a pergunta: o que são estes fundamentos apostólico-proféticos? Antes de explicar o que são os fundamentos apostólico-proféticos, gostaria de explicar o que eles não são:

1. O fundamento apostólico-profético não é uma nova doutrina que venha complementar ou substituir as Escrituras. Aquilo que foi estabelecido no canon bíblico é insubstituível e completo. Ninguém poderá acrescentar ou tirar nada. “Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap 22:18-19).

2. O fundamento apostólico profético não é uma nova invenção baseada em alguma elucidação humana (II Pe 1:20). Ou seja, não é algo que saiu do nada, sem base nenhuma e que leva a alguma lugar diferente daquele que as Escrituras nos levam.

Aquilo que outros apóstolos pregavam e que era diferente, mas aceitável, comparando-se àquilo que Paulo pregava, é o que chamo de “ensinamentos apostólicos”.  O que, então, são estes ensinamentos apostólicos que fazem parte do fundamento da igreja, que diferenciava de um apóstolo de outro na igreja primitiva?

Para introduzir esta questão quero dar um pequeno exemplo: veja a diferença das estratégias da igreja de Jerusalém e da igreja de Antioquia. Eram completamente diferentes. Estavam sendo edificadas sobre algumas premissas radicalmente distintas. Tinham bases de entendimento diversas. Tinham alguma parte do fundamento diferenciado uma da outra. Nisto percebemos que existiam diferenças nos fundamentos que determinavam a forma diferenciada de como trabalhavam

Ricardo Wagner, apóstolo

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