Como visto
nas edições anteriores, quando se fala em “cobertura espiritual” sobretudo
fala-se em fundamento apostólico. “Cobertura espiritual” sem entendimento claro
do que é “fundamento apostólico” é como querer construir uma casa sem que se
saiba o que é o alicerce. A Bíblia diz que “com a sabedoria edifica-se a casa,
e com a inteligência ela se firma” (Pv 24:3). Na Bíblia a casa é figura da vida
de uma pessoa ou da igreja. Tomando este verso de Provérbios pode-se dizer que
para se edificar a vida de uma pessoa ou para se edificar uma igreja local é
necessário sobretudo de sabedoria e não somente boas intenções.
Toda
estrutura de uma casa depende de seu fundamento. Quanto mais forte o fundamento
maior a possibilidade de se edificar um grande edifício sobre ele. Quem
constrói sem fundamento é como se estivesse construindo sem alicerces. Logo
quando soprarem os ventos a casa cairá.
Por isso a
Bíblia dá tanta ênfase ao fundamento, pois dele depende toda estrutura de uma
“casa”. Se uma pessoa ou uma igreja não está bem fundamentada, ela não tem
estrutura para suportar as dificuldades que virão, nem terá capacidade de
crescer para se tornar uma grande obra.
O que é o
Fundamento na Bíblia?
Se quisermos
receber ou dar o que se chama hoje de “cobertura espiritual” para edificarmos a
vida de pessoas e igrejas locais temos
que ter em mente muito claramente de que se constitui o fundamento. Ao
observarmos na Palavra de Deus, vemos que o fundamento é constituído de vários
componentes:
Jesus é o
fundamento. I Co 3:11 diz: “porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do
que foi posto, o qual é Jesus Cristo”. Jesus é o fundamento da igreja. A
construção de uma casa (vida ou igreja) começa pelo fundamento. Nos tempos
bíblicos, a pedra angular era a primeira pedra colocada em um vértice do
fundamento de um prédio e esta pedra tornava-se o referencial para construção
de toda edificação. Toda construção partia desta pedra. Todas medidas partiam
desta pedra. Ela era o início e a base de tudo. A bíblia nos diz que “ele
mesmo, Cristo Jesus, é a pedra angular” (Ef 2:20, I Pe 2:7).
Doutrinas
Básicas fazem parte do fundamento. Hb 6:1-2 nos diz: “deixando os rudimentos da
doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o
fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos
batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo
eterno.” Existem certas doutrinas básicas que fazem parte de nosso fundamento.
Estes ensinamentos são básicos e não podem ser removidos da base da igreja.
Ninguém tem o direito de mexer ou retirar algum deles com o risco de toda casa
cair.
Os Apóstolos
e Profetas também são o fundamento. A função de Jesus no fundamento da igreja é
única. Ele é a pedra angular. A pedra angular é apenas uma parte do fundamento.
Se Jesus é a pedra angular do alicerce ele não é todo fundamento. Como vimos,
as doutrinas básicas também fazem parte do fundamento da igreja. Jesus tem uma
função específica e única no fundamento, mas não exclusiva. Além de Jesus, os
ensinamentos que partem dele, da pedra angular, também fazem parte do
fundamento. Da mesma forma, os apóstolos e profetas que também partem dele
igualmente fazem parte do fundamento da igreja. A Palavra de Deus diz:
“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo,
Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2:20). Uma das poucas vezes que Jesus falou
a respeito da igreja ele afirmou ao apóstolo Pedro: “eu te digo que tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16:18). Temos aqui
dois entendimentos:
Os próprios
apóstolos e profetas são o fundamentos. No livro de Apocalipse o apóstolo João
nos fala a respeito da nova Jerusalém: “a muralha da cidade tinha doze
fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do
Cordeiro” (Ap 21:14). Além de Jesus especificamente dizer que sobre Pedro
(literalmente pedra, rocha) seria edificada a igreja, também no livro de
Apocalipse nos é exemplificado que o fundamento da muralha da nova Jerusalém
tinha o nome dos 12 apóstolos do Cordeiro. O significado dos apóstolos e profetas
serem o fundamento está em que eles são as estruturas fortes da igreja visível
que sustentam no cotidiano a sua força, estatura, expansão e caráter.
Os
ensinamentos apostólicos são o fundamento. O apóstolo Paulo escreveu: “segundo
a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor;
e outro edifica sobre ele.” Paulo estabeleceu ensinamentos como fundamento para
que outros edifiquem sobre estas bases. Os ensinamentos apostólicos também
faziam parte do fundamento da igreja primitiva.
A Missão, os
Princípios e a Visão da Igreja
Nas Escrituras
Deus nos deixou revelado, entre tantas outras coisas, qual "a missão"
da igreja, ou seja, "o que" sua igreja deveria fazer. A missão
representa "a razão da sua existência". A missão confere à igreja a
sua verdadeira identidade e propósito. A missão da igreja determina porquê a igreja existe.
Muitos
pastores dizem que a visão de sua Igreja é alcançar os perdidos e discipulá-los
e enviá-los. Esta não é a visão de nenhuma Igreja. Esta é a missão de todas as
Igrejas. Nenhuma Igreja pode ter uma missão muito diferente desta, pois se
assim fosse não seria uma igreja bíblica. Isto é o que as Escrituras dizem ser
a missão de todas as Igrejas e não de uma igreja especificamente.
Além das
Escrituras terem registrado a missão da igreja, Deus também nos deixou
registrado os "princípios" em como cumprirmos com esta missão. Ele
não nos deixou registrado especificamente o "como" cumprirmos com a
missão, mas sim os "princípios" em como cumprirmos com a missão. Se
Ele tivesse estabelecido os "comos" especificamente, talvez
estivéssemos nos reunindo em catacumbas e nunca teríamos entrado nos meios de
comunicação da atualidade.
Para
exemplificar. A comunhão é um princípio, porém como praticamos a comunhão muda
de geração em geração. A oração é um princípio, porém como oramos muda de uma
cultura para outra.
Os
"princípios" não mudam com o tempo ou com as novas tecnologias
disponíveis. Porém, "como" especificamente aplicamos estes princípios
nas diversas épocas e culturas, muda consideravelmente. Os princípios devem ser
contextualizados dentro da cultura e dos recursos disponíveis e aplicados de
acordo com a situação. O "como" aplicamos os princípios da Palavra na
cultura e tempo que vivemos é o que chamamos atualmente de "visão".
A “visão” de
trabalho é baseada nos princípios estabelecidos desde a antiguidade no cânon
bíblico e é tarefa dos apóstolos fundacionais da atualidade trazer esta visão
para igreja. A visão de trabalho é o fundamento sobre o qual as igrejas
apostólicas trabalham.
A Visão
Procede de Revelação e Entendimento
Pedro
recebeu revelação dos céus que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus. Jesus disse
que sobre esta rocha (a revelação e entendimento de Jesus Cristo como Filho de
Deus), Ele edificaria sua igreja (Mt 16:18).
A igreja é
edificada sobre a rocha da revelação e entendimento. Revelação e entendimento é
o fundamento sobre a qual a igreja é estabelecida. Sem revelação apostólica, a
igreja não pode ser edificada corretamente.
Diferentes
apóstolos são enviados a pregarem diferentes revelações. Existem apóstolos de
fé, libertação, prosperidade, etc. Também existem apóstolos que estabelecem uma
visão prática de trabalho sobre a qual a igreja é estabelecida. Mesmo que hajam
diferentes mensagens reveladas para diferentes apóstolos, estas revelações são
fundacionais. A mensagem do apóstolo estabelece um forte fundamento sobre o
qual os santos devem alicerçar suas vidas e a igreja deve ser edificada.
A Verdadeira
Cobertura Espiritual
Finalizando.
Dar cobertura espiritual a alguém ou a uma igreja é estabelecer os fundamentos
sobre os quais estas pessoas ou igrejas são edificadas. Estar debaixo de
cobertura é andar na visão estabelecida pelo apóstolo. Quem não está edificando
sobre a revelação e entendimento apostólico (visão apostólica), está fora de
cobertura espiritual.
Conforme
havíamos visto nas edições anteriores, Jesus é a pedra angular do fundamento da
igreja de onde parte todo edifício (I Co 3:11, Ef 2:20, I Pe 2:7). As doutrinas
básicas (Hb 6:1-2) e as pessoas e ensinamentos dos apóstolos e profetas (Ef
2:20), que tem origem na própria pessoa de Jesus que é a pedra angular, também
são parte do fundamento da igreja. A pessoa de Jesus e as doutrinas básicas é
algo claramente entendido e aceito na igreja, porém o entendimento de que os
apóstolos e profetas com seus ensinamentos também fazem parte do fundamento da
igreja é algo novo. Com base neste entendimento está toda compreensão bíblica
daquilo que chamamos hoje de “cobertura espiritual”. Por isso vamos nos deter
mais pormenorizadamente neste ponto.
Apóstolos e
Profetas como Fundamento da Igreja
Observemos o
que o apóstolo Paulo escreve em sua carta aos Romanos: "esforçando-me,
deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não
edificar sobre fundamento alheio" (Rm 15:20). Através deste texto podemos
entender algumas coisas que nos ajudarão a compreender a respeito do que
significa o fundamento apostólico.
Primeiro,
através deste texto entendemos que havia diferentes fundamentos. Paulo fala de
um fundamento alheio, ou seja, um fundamento que não pertencia a ele, um fundamento
de outro apóstolo e/ou profeta (pois eram os apóstolos e/ou profetas que
estabeleciam fundamentos na igreja conforme Ef 2:20). Entendemos então que na igreja primitiva
havia o fundamento de Paulo e o fundamento de outros apóstolos e profetas, ou seja,
havia muitos fundamentos apostólico-proféticos.
Segundo,
este fundamento, diferente do de Paulo, também era cristão, uma vez que
provinha da pregação do evangelho.
Terceiro,
Paulo não escreveu que este fundamento alheio ao dele tinha algo de errado.
Pelo contrário. Ele dava liberdade para continuar a se expandir livremente onde
havia sido estabelecido, sem fazer nenhuma advertência ou objeção. Além disto,
ele se sentia confortável que o evangelho estivesse sendo pregado daquela forma
naquele lugar ao ponto de não permanecer naquele território, partindo para
outros lugares onde o evangelho ainda não havia sido pregado. Se houvesse
alguma coisa errada, ele certamente faria alguma advertência, tentaria colocar
as coisas em ordem ou permaneceria naquele lugar para pregar seu fundamento (se
considerasse que o fundamento que ele pregava fosse o único correto e
aceitável).
Através
deste texto entendemos que havia alguma diferença ente um apóstolo e outro no
que tange ao que pregavam. Não eram diferenças que comprometiam o puro
evangelho, a fé ou as doutrinas bíblicas, porém eram diferenças individuais que
diferenciavam um apóstolo de outro. Diante disto, surge a pergunta: o que são
estes fundamentos apostólico-proféticos? Antes de explicar o que são os fundamentos
apostólico-proféticos, gostaria de explicar o que eles não são:
1. O
fundamento apostólico-profético não é uma nova doutrina que venha complementar
ou substituir as Escrituras. Aquilo que foi estabelecido no canon bíblico é
insubstituível e completo. Ninguém poderá acrescentar ou tirar nada. “Se alguém
lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste
livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia,
Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se
acham escritas neste livro” (Ap 22:18-19).
2. O
fundamento apostólico profético não é uma nova invenção baseada em alguma
elucidação humana (II Pe 1:20). Ou seja, não é algo que saiu do nada, sem base
nenhuma e que leva a alguma lugar diferente daquele que as Escrituras nos
levam.
Aquilo que
outros apóstolos pregavam e que era diferente, mas aceitável, comparando-se
àquilo que Paulo pregava, é o que chamo de “ensinamentos apostólicos”. O que, então, são estes ensinamentos
apostólicos que fazem parte do fundamento da igreja, que diferenciava de um
apóstolo de outro na igreja primitiva?
Para
introduzir esta questão quero dar um pequeno exemplo: veja a diferença das
estratégias da igreja de Jerusalém e da igreja de Antioquia. Eram completamente
diferentes. Estavam sendo edificadas sobre algumas premissas radicalmente
distintas. Tinham bases de entendimento diversas. Tinham alguma parte do
fundamento diferenciado uma da outra. Nisto percebemos que existiam diferenças
nos fundamentos que determinavam a forma diferenciada de como trabalhavam
Ricardo
Wagner, apóstolo
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