quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Cobertura Espiritual ou Fundamento Apostólico?

Há muito tempo estou para escrever esta mensagem, mas sempre tive muito temor em função de ser um assunto bastante delicado e controverso. Não queria me posicionar, e muito menos deixar registrado, uma posição diferente daquela praticada na maioria das igrejas sem que estivesse respaldo por outros líderes reconhecidos na igreja mundial. Assim, desta forma, gostaria de afirmar que esta não é uma teologia “ricardiana”, mas tem o aval de muitos líderes de proeminência dentro do cenário eclesiástico mundial.

Por muito tempo em minha vida fiquei me perguntando como deveria funcionar a estrutura de autoridade e governo na igreja. Lia uma coisa na Bíblia e via várias práticas na igreja que, na grande maioria das vezes, era completamente diferentes daquilo que via nas Escrituras. Nunca consegui me alinhar com as práticas correntes das igrejas, pois não via correlação com a Palavra de Deus. Desta forma me dediquei muito a estudar este caso. Pesquisei incansavelmente. Busquei posicionamentos diversos. Trouxe vários livros de autores diferentes de toda parte do mundo. Li toda literatura que encontrei. Assim, aquilo que passarei a escrever é um compêndio do assunto em questão.

Sei que de alguma forma já tenho sido contestado por alguns posicionamentos que tenho tomado até então. Também sei que a partir de agora ainda maiores controvérsias surgirão. Porém meu compromisso não é com a tradição e muito menos com alguma instituição, mas com Deus e com a restauração de sua igreja.

O conteúdo deste tema será desenvolvido nesta e nas próximas edições para que se possa desenvolver na completude a abrangência deste assunto.

Cobertura Espiritual

Nas duas últimas décadas uma prática tomou conta das igrejas. A prática da “cobertura espiritual”. Esta prática não era conhecida até o surgimento das igrejas independentes na década de 1970. Para que estas igreja independentes não ficassem a mercê unicamente de seu líder máximo, e para que houvesse proteção do pastor, dos membros da igreja local (independente) e, de forma geral, da igreja global (evitando escândalos e desvios), foi criada uma forma de segurança através da cobertura espiritual a quem aquele líder ou igreja se submete. Nas denominações tradicionais por muito tempo não se falou sobre este assunto, a ainda não se fala em muitas delas, pois a questão da cobertura espiritual está intrincica nas linhas de governo e autoridade da denominação.

Porém a prática de “cobertura espiritual” se multiplicou, criando várias formas e conceitos, indo de uma cobertura espiritual apenas verbal e formal até uma prestação de contas minuciosa, tendo que o discípulo prestar conta dos mínimos detalhes de sua vida a sua “cobertura”. Começaram a surgir variáveis como cobertura para igreja e cobertura para pessoa. Muitos pastores hoje tem até três “cobertura espirituais“. Uma cobertura pessoal, outra para o modelo de igreja que escolheram seguir e outra a denominação a que pertencem.

A “cobertura espiritual”, na própria semântica da palavra, contém a compreensão de proteção. O entendimento é que toda pessoa que se encontra debaixo de uma “cobertura espiritual” está automaticamente debaixo de proteção. A cobertura funcionaria como um guarda-chuva de proteção contra os ataques e ciladas do inimigo.

Mesmo que no conceito de “cobertura espiritual” esteja a idéia de submissão e prestação de contas a uma autoridade espiritual, na prática isto não tem funcionado desta maneira. A grande maioria tem falado que está debaixo de uma certa “cobertura espiritual”, porém não tem nem sequer tido contato por um longo período de tempo com esta pessoa, muito menos se submetido a sua orientação e a prestação de contas.
A “Cobertura Espiritual” na Bíblia

Depois de muito tentar encontrar na Bíblia um exemplo que avalizasse a “cobertura espiritual” como a conhecemos hoje, nada encontrei. Por incrível que pareça não existe nenhum exemplo bíblico daquilo que chamamos hoje de cobertura espiritual. Existem sim, muitos exemplos de discipulado (Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Jesus e os 12 apóstolos, Paulo e Timóteo, entre outros), porém não há exemplos de “cobertura espiritual”. Busquei então em autores que escreveram sobre este assunto para ver se estava equivocado, porém nenhum conseguiu explicar a pratica moderna de “cobertura” através de um exemplo bíblico.

Enquanto no disipulado o discípulo é levado a seguir o modelo de seu mestre (discipulador), a “cobertura espiritual” tem apenas uma conotação de proteção e não segue a essência do discipulado, ou seja, a imitação de um modelo (Fp 3:17).

Historicamente tem se visto que a igreja tem desenvolvido sistemas alternativos para solucionar carências em alguma área da igreja. As organizações para-eclesiásticas tem se desenvolvido exatamente neste mercado. Alternativas tem sido desenvolvidas para tapar a brecha daquilo que tem sido negligenciado pela igreja.

Creio que o modelo de igreja desenvolvido por Deus é completo em si mesmo. Quando se mexe no modelo estabelecido por Deus, como tem acontecido através dos séculos, é necessário desenvolver alternativas paralelas para que o sistema venha a funcionar. Assim são incorporados apêndices na igreja para tornar viável seu funcionamento. Não sou contra as estruturas para-eclesiásticas, pois graças a elas chegamos onde estamos. Porém precisamos caminhar para o modelo de igreja neotestamentária.

A cobertura espiritual se tornou uma destas invenções. Graças a Deus pela “cobertura espiritual”, pois apesar dela ser uma disfunção bíblica, ela veio resolver uma situação causada por outra disfunção bíblica, igrejas e pessoas independentes. Nem uma e nem outra seguem o modelo bíblico.

A Limitação da “Cobertura Espiritual”

Na realidade aquilo que chamamos de cobertura espiritual é uma pequeníssima parte de um verdadeiro discipulado. Jesus não nos chamou para darmos ou termos cobertura, mas para sermos e fazermos discípulos. Analisemos a raiz da palavra cobertura através de um exemplo. Numa guerra um soldado pode pedir a outro que lhe dê “cobertura” enquanto faz uma investida no campo do inimigo. O seu colega que o cobre, na verdade o irá proteger. Mas a pergunta é: o soldado que está sendo protegido está fazendo a coisa certa? Quem garante que esta é a melhor estratégia? Foi decisão dele ou alguém lhe deu ordens para fazer aquilo daquela forma? E ainda mais, se por algum motivo qualquer ele se expor, mesmo que esteja sendo coberto, estará ele protegido e seguro?

Trazendo para dentro da igreja, “cobertura espiritual” não é sinônimo de segurança, pois mesmo que se esteja debaixo de cobertura, pode se estar fazendo a coisa errada de forma errada, ou fazendo a coisa certa de forma errada, ou fazendo a coisa errada de forma certa, pois a cobertura não tem o objetivo de dar direção, mas proteção, pois a própria semântica da palavra traz esta conotação. Isto significa que uma pessoa pode estar sob cobertura espiritual, e ao mesmo tempo pode estar agindo de forma equivocada, perdendo seu tempo, não produzindo resultados e sendo destruída. Como no exemplo do soldado sendo protegido, a cobertura apenas garante uma limitada segurança contra algum inimigo que é viso e percebido pela cobertura, mas não dá garantia de se estar trilhando o caminho correto.

Cobertura ou Fundamento?

Quando a chuva cair, os rios transbordarem e os ventos sobrarem, não adianta termos um bom telhado (cobertura) em uma casa para que ela não caia, mas como a palavra de Deus diz, temos que ter um bom fundamento. A maior proteção que uma pessoa pode ter para que tenha estabilidade, é estar alicerçada sobre um bom fundamento (Mt 7:24-27). O fundamento por si só faz o trabalho de proteção contra as muitas águas, os fortes ventos e as tempestades, circunstâncias estas criadas pelo inimigo para destruir nossas vidas. O fundamento é que traz a segurança e proteção que a maioria dos cristãos espera encontrar em uma “cobertura”. Se quisermos ser vencedores temos que correr desesperadamente atrás de um bom fundamento e não atrás de uma boa cobertura.
A “Cobertura Espiritual” como fonte de altivez

Hoje se tem falado muito sobre “cobertura espiritual”. Porém, infelizmente, no meio daqueles que são sinceros, honestos e querem verdadeiramente ser obedientes a Deus, há alguns que querem alguém com quem possam se aliançar e, através desta aliança, alcançar projeção e visibilidade no meio eclesiástico. Querem que suas “coberturas” sejam pessoas famosas e de prestígio, para serem vistos com aqueles que são importantes. Outro dia ouvi falar de um caso onde um pastor estava desesperadamente querendo conhecer aquele que por muitos anos ele dizia ser sua cobertura.

Por outro lado também tenho visto pessoas oferecendo “cobertura espiritual” como se fosse um negócio, para poderem dizer aos outros que tem uma grande quantidade de pessoas debaixo de sua “cobertura”, o que os tornam mais importantes e influentes. Transformaram o amor num negócio. De fato, a questão de “cobertura espiritual”, em muitos casos, tem se tornado um meio de expressar soberba, altivez, orgulho e arrogância. Não foi este o plano de Deus para a arquitetura das linhas de autoridade na igreja.

A construção da igreja (e de nossas vidas) deve ser baseada num projeto

Se quisermos edificar uma casa de forma segura, correta e que subsista ao tempo temos que buscar engenheiros e arquitetos que farão um projeto e nos darão sábias orientações que servirão de base para construirmos. Da mesma forma quanto a igreja. Se quisermos edificar a igreja de forma correta e segura e que subsista as intempéries espirituais temos que seguir a orientação de exímios arquitetos ou construtores espirituais. Não basta termos um bom telhado (cobertura) para que uma edificação subsista ao tempo. Temos que ter um bom projeto. Temos que ter uma boa base.

Deus deu capacitação sobrenatural a algumas pessoas para serem estes arquitetos espirituais de sua igreja, ou seja, pessoas dotadas com aptidões espirituais para fazerem o projeto e darem orientações sábias que sirvam de base para se edificar a igreja. Se não tivéssemos pessoas com estes dons na igreja, estaríamos em sérios problemas, pois cada um construiria conforme seu pensamento, sem sabedoria e entendimento, o que resultaria em uma igreja edificada de forma irresponsável que não suportaria aos terremotos da vida.

Quem são os arquitetos espirituais da igreja?

O apóstolo Paulo escreveu que “segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele” (I Co 3:10). A palavra grega traduzida como construtor é ARCHITEKTON, de onde deriva a palavra arquiteto. Um arquiteto é uma pessoa cuja profissão é preparar projetos para edificações e exercer a superintendência geral em sua construção. Um arquiteto faz projetos de estruturas complexas, e orienta como edificá-las. Ele planeja e constrói para alcançar resultados desejados. Ele faz projetos e tem estratégias definidas em como construir.

Paulo se auto identificava como um arquiteto espiritual. Ele reconhecia que não era apenas um simples arquiteto, porém, como escreveu, ele se intitulava como sendo um prudente arquiteto. A palavra grega usada para prudente significa alguém perito em sua atividade. Uma pessoa experiente e sábia naquilo que faz. Isto significa que Paulo tinha aptidões diferenciadas dadas por Deus (dons) para estabelecer as bases arquitetônicas da igreja. Aquilo que Paulo ensinava era um projeto espiritual com as devidas estratégias para edificação da igreja. Seus ensinamentos explicavam como Paulo, através de seus atributos especiais, ou seja, através da graça que Deus lhe havia concedida, recebera revelação e havia concebido a igreja. Os ensinamentos apostólicos eram projetos espirituais com suas devidas estratégias para trazer a cabo estes planos. Esta é uma das principais funções apostólicas.

Quem quiser andar num modelo verdadeiramente bíblico precisa estar construindo sobre as bases apostólicas. São os apóstolos que receberam a função e os dons necessários para estabelecerem os fundamentos, ou seja, as bases arquitetônicas da igreja. Quem construir fora destas bases estará fora da concepção de funcionamento que Deus fez para sua igreja. A segurança está em construir sobre as bases corretas e não apenas ter a cobertura correta. Desta forma, a verdadeira “cobertura espiritual” é construir sobre os fundamentos apostólico-proféticos.


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